terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Balada da Neve..." de Augusto Gil

Conforme o prometido aos meninos, na aula de 3ª Feira , aqui fica o poema completo "Balada da Neve" escrito por Augusto Gil.



Dados Biográficos:
*
Augusto César Ferreira Gil nasceu em Lordelo do Ouro, Porto, em 1873 e faleceu em Lisboa em 1929.
Estudou inicialmente na Guarda, donde os pais eram oriundos, e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.
Começou a exercer advocacia em Lisboa, tornando-se mais tarde director-geral das Belas-Artes.
Obras poéticas: Musa Cérula (1894), Versos (1898), "Luar de Janeiro (1909), O Canto da Cigarra (1910), Sombra de Fumo (1915), Alba Plena (1916), O Craveiro da Janela (1920), Avena Rústica (1927) e Rosas desta Manhã (1930). Crónicas: Gente de Palmo e Meio (1913).

O poema "Balada da Neve", que tem atravessado diferentes gerações, e a expressão "...Mas as crianças Senhor, porque lhes dais tanta dor..." encontra-se na obra "Luar de Janeiro" (1009).

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil
*http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/agil.htm

1 comentário:

  1. Olá,amiguinhos!
    Não tenho dado notícias nem tenho visitado os blogues, pela razão de o meu pc ter estado avariado há uns dias.
    Agora, que já está de "saúde," vim espreitar por aqui!!!
    Adorei Reler esta bela poesia do " Meu" AUGUSTO GIL... pois ele viveu durante alguns anos na minha cidade da GUARDA, e lá está sepultado no JAZIGO DE FAMÍLIA,onde se pode ler:

    E A PENDIDA FONTE
    AINDA MAIS PENDEU
    E A SONHAR COM DEUS,
    COM DEUS ADORMECEU!

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